Como se nada além dessa vida fizesse sentido, aproveito o calor do entusiasmo e começo a caminhar. Ando em busca dos sonhos. E todos eles são possíveis, assim como uma paixão. De vez em quando, travo o ponteiro do relógio e com um olhar cheio de graça olho para trás. Não consigo enxergar o ponto de partida, pois dele já sair há algum tempo, e ver o seu início seria quase um recomeço consciente. Não quero ter essa convicção. Quero a sensação de quem dança e delimita um espaço leve. De quem viaja com a curiosidade infinda e a sabedoria inacabável. Imediatamente, acordo de uma morte súbita, destravo o ponteiro. Ergo o olhar para algum lugar, mas quando vejo, já estou em outro espaço. Os sonhos me levam, me acordam, me adormecem, me inspiram. Transformam o meu caminhar na minha maior paixão.
Retroceder no tempo seria quase um despertar dos sonhos. Reencontrar a primeira referência, uma impossibilidade. Sonhos não se revivem, se reinventam e nunca dormem. Mesmo que eu quisesse, passaria toda essa paixão sem revivê-la, mas buscando-a uma outra vez, e nessa tentativa, perderia de vista a minha própria sombra. Prossigo o caminhar, agora com mais paixão, e outro modo de pensar.
Nunca sei se estou longe ou perto, nem ao menos se já fiz meia caminhada.
Sem olhar para trás, sinto o vento de leve como quem segue apaixonado. Olhar para os lados é sempre possível. E toda vez que olho, sei que não estou só. Pois, ao virar uma curva sinuosa, de um lado, vejo os sonhos, do outro, o ponto de referência que pensei ter deixado no ponto de partida. Já sei: sigo apaixonada e não estou só. Carrego na bagagem, toda motivação dos sonhos, todo amigo que ganhei, mesmo aqueles que perdi pelo meio do caminho, a primeira história, inclusive aquela que me fez chorar sem ter nada escrito em suas linhas. Levo na mala invisível, toda paixão de uma vida, o que é presença e ausência também levo comigo.
Olhar para trás eu não quero mais. Não preciso. Nada deixei, nada perdi. O que preciso, segue comigo. Se eu insistir, terei a ilusão de quem volta, de quem tropeça, de quem não anda. E assim, o pesadelo de quem não sonha. Travar o ponteiro dos sonhos, não mais. Controlar o sentido da sombra, não é viver como uma paixão. Seguirei levando uma enorme mala, mas bem leve, que caibam todas as conquistas, todos os sonhos, os amores que me mantêm apaixonada pela tenebrosa e insinuante estrada da vida. Nada mais.
Ótima sexta-feira pra todos que caminham apaixonados.
Imagem disponível em: <http://www.portal.santos.sp.gov.br/agendacultural/e107_plugins/agenda/evento.php?lastmsg=1137> Acesso em 26/07/2013.