Por que eu escrevo?
Imagem disponível em:<https://www.google.com.br/imgres?> Acesso em 26/07/2013
Escrevo como quem encontrou um tesouro e tem a necessidade de mostrá-lo.
Porque encontrei um instrumento que me permite ouvir a própria voz.
Por medo que o tempo deteriore as estruturas por falta de cuidado.
Como forma de restabelecer o próprio pensamento e deixar viva a prática sublime.
Porque é um modo de articular o meu silêncio.
Escrevo tão lentamente que adquiri a velocidade de quem pensa, não de quem aceita qualquer pensamento, mas de quem aprendeu a acreditar em alguma coisa, e desacreditar de muitas delas.
Não escrevo para todos lerem, mas para ler, aqueles que sentem-se necessitados.
Não escrevo por falta de atitude, mas por ter a atitude de mostrar o que penso. Porque pensar pra mim mesmo, não garante a veracidade dos meus pensamentos. E ter essa atitude de dizer, enfatiza a minha necessidade de existir.
Sim, sou a pensadora, podem me chamar assim. É um privilégio por contribuir com suas formas de me ver. Se sou poeta? Sim, também podem atribuir-me tal nomenclatura. Porque ser poeta é uma forma de tornar leve todo o sentimento de viver, porque viver é poesia, mas só consegue vê-la em si mesmo, quem consegue pensar pelo pelo menos algumas vezes ao dia, e agradecer à natureza de sua existência. Se sou escritora? Sim, também escrevo. Escrevo a minha forma de pensar e dizer. E digo-lhes que escrever é uma prática que ensina. Um aprendizado individual. Não escrevo sozinha, tenho meus aliados. Aqueles que se apresentaram quando eu mais precisei, e continuam vivos no meu mundo, porque tudo que me passaram ficou pra sempre nas minhas necessidades de viver, por isso escrevo. Sei que de um lado, estou eu, e do outro o meu outro eu, e este, pode encontra-se consigo e tornar-se uno nos seus pensamentos. Por isso escrevo. Também escrevo porque preciso testemunhar e esticar o juramento que lhes fiz quando concordei com seus ensinamentos. E a forma mais precisa que descobri de fazê-lo é usar a minha capacidade de acreditar. Pois quando acredita-se em algo, é porque uma das verdades é não ter medo de dizê-lo. E quem escreve, não tem medo do escuro, pois aprendeu a encontrar sabedoria nos lugares mais recônditos da mente, e esta por sua vez, ser a luz que o leva a conduzir qualquer pensamento, inclusive o de como desviar-se das pedras que o faz tropeçar, e a escalar as mais altas montanhas que atravessam imensidões de espaço e o leva a outros lugares. Escrevo como quem precisa de motivação pra não desistir. Como quem precisa atribuir valor a tudo o que acontece, inclusive o de enxergar as pedras como alimento para se erguer novas estruturas, e a ver as montanhas como cortina do teatro mágico de viver. Pois, se estas estivessem sempre abertas, ver o outro lado não seria tão mágico quanto a curiosidade de encontrar o novo do seu outro lado, nem tão fantástico como mudar de posição e ter outra visão do universo.
Quando escrevo, tenho a sensação de quem treme, de quem precisa reestruturar o equilíbrio. De quem foi expulso do comodismo. Tenho a liberdade de ler a minha própria fala, de continuar a busca de me encontrar. Escrevo com a sensação de encontrar o começo do final. Mas quanto mais leio e escrevo, tenho a comoção de que preciso voltar e começar tudo de novo, e de que nunca terei tempo suficiente para isso, porque não quero o fim. Quero uma vida com espaço aberto, onde terei a oportunidade de continuar ou recomeçar a qualquer tempo. O final não pode existir. Não sou a primeira nem a última. Sou a extensão de muitos. Inclusive daqueles que carrego comigo. Não quero ter a sua igualdade, nem aceitar qualquer pensamento. Quero a produção necessária para o momento oportuno de escalar montanhas. E ler, sempre vai ser a magia de conhecer o mundo por vias finas. O meio de transporte mais confortável que me leva a dar uma volta completa no mundo de alguém. E na vinda, ser o começo de uma nova viagem.
Escrevo como quem descobriu o tesouro de articular palavras, de fazê-las adquiri-las o valor do que preciso dizer. Como quem descobriu o jogo mais divertido das possibilidades comunicativas. Não escrevo para que me julgue, nem me elogie, mas para que leia e entenda a necessidade de dizer alguma coisa. Inclusive, a de dizer que "ler é saber que o sentido pode ser outro", e para descobri-lo, é preciso conhecer as regras do jogo. Ler e escrever é uma arte, como aquela de quem pinta um quadro, não qualquer tela, mas a que permite a maior das ilusões óticas, como a tela que pintamos a cada dia na nossa história.
Escrever é uma forma de não falar sozinho. Ler é o telefone com o fio mais seguro e antigo do mundo. Ler e escrever é o elemento mais precioso da comunicação. É generosidade e doação.
Bom dia!