Precisamos desafiar nossos alunos.
Imagem disponível em: <http://freirodrigodearaujo.blogspot.com.br/2010/03/deus-te-ama-e-para-ele-voce-faz.html> Acesso em 04/08/2013. |
Desde que comecei a lecionar, sempre fiquei incomodada com a monótona participação da maioria dos alunos durante as aulas. Muitas vezes, após minha estada com eles, voltei para casa preocupada, e até triste. Então, comecei a carregar um peso que sabia que eu precisava fazer alguma coisa para descarregá-lo. Algumas vezes, até comecei a culpar-me por tanta desmotivação. Fiquei a pensar por um longo tempo,e não conseguia descobrir nada. Comecei a conversar com outros professores, e fui notando que a realidade com eles não era diferente. Ás vezes, até ouvir de alguns colegas o fato de que tal comportamento fazia parte do perfil do aluno, e de toda a classe como seres humanos. O que não amenizou meu desconforto. Não acredito nisso.
Passei a pensar mais a minha prática, e em tantos fundamentos que estudei em toda a minha formação acadêmica, além disso, comecei a pesquisar ainda mais e observar com frequência o comportamento dos alunos, principalmente as vertentes: participativo x omisso.
Somos diferentes, cada aluno traça um perfil, assim como os professores, mas todos somos humanos e em constante formação. O que é importante.
Vivemos épocas e realidades diferentes, inclusive, novas necessidades de aprendizagem. E ainda, como professores, temos um papel fundamental na vida de cada aluno. Somos nós, professores, que direcionamos o trabalho pedagógico e preparamos o aluno para receber tais informações e transformá-las em conhecimento. Muitas vezes, nos deixamos ser levados por ideologias que moldam o nosso andar, que nos desafiam, deixando-nos até desequilibrados. Mas, talvez, os desequilíbrios são precisos para que encontremos melhores formas de caminhar. Portanto, é relevante a postura do professor em sala de aula como responsável pelo processo de aprendizagem, e assim, não deixar ser conduzido por um grupo que se apresenta desmotivado, mas que na verdade, não estão desmotivados, estão despreparados e dependentes da atuação do professor.
Nossos alunos têm hábitos que desconhecemos, e nenhum deles pode justificar a atuação do estudante em sala de aula. Mas o que fazemos com eles durante nossas aulas pode fundamentar o compromisso que será organizado por cada aluno durante o processo escolar. Portanto, não nos desliguemos do que precisa ser feito com os alunos para que adquiram hábitos necessários. Não podemos ser aliados somente a um livro didático que foi preparado por pessoas que sabem o caminho, mas não conhecem seus alunos. Vemos esse material como apoio ao que precisa ser desenvolvido, mas sempre atentos às possibilidades de seu uso. Não fiquemos presos à fala, muitas vezes advindas dos pais, de que o livro precisa ser trabalhado até a última página, sem exceção de nenhuma, porque custou caro, ou como prova de que o estudante está fazendo alguma coisa na escola. Quem vive a realidade escolar e trabalha com crianças e adolescentes, sabe que o livro se torna pequeno diante da informatização, hábitos familiares e necessidade de formação humana. Sim, o livro é importante, mas não é o único, nem capaz, sozinho, de atender às reais precisões. Antes de passar página por página, nosso aluno precisa ser preparado para entendê-lo como útil e propulsor para novos aprendizados. E aí, vemos que o professor não se omite em nenhum momento desse processo. Antes de qualquer ferramenta, este continua a principal peça para a montagem do quebra-cabeça, e nosso aluno espera por isso, mesmo sem saber. Pois, quando falta essa peça, as outras começam a se encaixar em qualquer lugar e o resultado, quando não há interferências precisas, é uma verdadeira desordem. Portanto, o professor tem de estar organizado e presente.
Foram reflexões como essas, que me levaram a voltar para a escola neste 2º semestre, disposta a ser melhor, e a descobrir melhores formas de trabalho, inclusive o trabalho em grupo, não só entre alunos, mas principalmente entre os profissionais. Precisamos nos unir para o bem.
Então, no primeiro dia de aula, 01 de agosto, propus ao Ensino Fundamental II, em aulas de Língua Espanhola, dinâmicas de grupo, que fosse possível o reconhecimento de um resultado rápido, participativo e agregador de valores. Vejam algumas coisas que aconteceram:
6º ano: antes das férias, os alunos estudaram sobre partes do corpo humano e descrições físicas. Então, cada grupo ficou responsável de desenhar em uma folha de jornal ou revista, uma parte do corpo (o que foi decidido entre eles para evitar repetições). A medida que um grupo terminava, alguém colava sua parte na lousa, até montar um boneco. Essa atividade proporcionou reflexões acerca da importância do trabalho em equipe, tendo a visão de que cada grupo formaria uma peça de um quebra-cabeça, onde a participação de todos é necessária para a realização de um trabalho de qualidade. Após essa dinâmica, cada grupo teve de atribuir um título ao boneco e produzir um texto, em espanhol, fazendo as descrições físicas do mesmo. Para isso, consultaram a matéria estudada, o dicionário e os próprios colegas. Foi uma atividade divertida e produtiva. Não deixamos de trabalhar a parte didática. Vejam as fotos.
7º ano: usamos a sala de informática, onde realizamos uma dinâmica, empregando o espanhol. Cada aluno escreveu em um pequeno pedaço de papel, uma palavra que significasse sua principal qualidade e outra, sua principal dificuldade. Depois, misturamos os papéis. Cada aluno retirou um papel, não necessariamente o seu, e atribuiu a qualidade e a dificuldade a outro amigo, como forma de ver como cada um se vê e como o outro lhe vê. Em algum momento, alguém mencionou da dificuldade de falar de si mesmo, e do quanto a dinâmica foi importante para a vida do estudante. Após essa atividade, acessamos o site "CVC-Cervantes" e realizamos alumas atividades gramaticais, de leitura e vocabulário, jogos, atividades lúdicas que levam o aluno a ler em espanhol e praticar o que já aprendeu em sala de aula. Todos participaram.
8º ano: fizemos a mesma dinâmica do papel com uma qualidade e uma dificuldade. Nessa sala, as reações foram ainda melhores, pois ouvir uma palavra, a qual muitas vezes é vista como um defeito do outro, pode soar para alguns como uma ofensa. O que gerou certas discussões e foram relevantes para o trabalhar em grupo. Em seguida, dividiram-se em grupos de 4 alunos. Cada grupo recebeu um texto escrito em espanhol, o qual teriam de lê-lo e apresentá-lo para os demais usando uma forma criativa e rápida de passar a mensagem. Alguns alunos escreveram um novo texto, falando do mesmo. Outros criaram um diálogo. Outros preferiram falar naturalmente sobre o que leram. E um outro grupo preferiu fazer uma pequena dramatização através de desenho na lousa. Vejam a foto. Todos se superaram, falaram em espanhol e todos participaram, cada um de seu modo.
9º ano: foi feita a mesma dinâmica da qualidade e do defeito. Todos participaram e foi perceptível o valor da atividade. A seguir, continuamos nossos estudos sobre a música em espanhol. Para isso, usamos a sala de informática, usando o google.es, pesquisamos sobre a expressão "spanglish". (Uso do espanhol misturado com o inglês nos Estados Unidos). Usando o word, cada um organizou uma apresentação escrita de sua pesquisa. Cada um teve para isso, aproximadamente 15 minutos. Aprenderam sobre o assunto, leram e escreveram em espanhol. E para a minha alegria, até os mais tímidos fizeram a atividade sem hesitar.
Precisamos desafiar nossos estudantes. Pois quando fazemos isso, desafiamos a nossa própria capacidade de fazer diferença na vida de cada aluno. Nossos alunos precisam saber que são capazes, e que é preciso confiar no seu professor e ser diferente, pois quem tem êxito são aqueles que fazem a diferença.
Voltei para casa feliz e acreditando que posso ser cada vez melhor.
Para nosso aluno, nós somos a diferença. E para o professor, o aluno também é um diferencial. O resultado de tudo isso, é o sucesso de cada um: alunos e professores.
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